Excitante, muito excitante...
O veterinário é um profissional pluridisciplinar, com aptidões que o tornam "a melhor escolha" para muitos cargos. Um desses cargos é o de funcionário público.
O Veterinário-Funcionário-Público também sai de casa todas as manhãs. Ao invés das galochas e fato-macaco, a experiência ensinou-o que um fato escuro e uma gravata cor-de-rosa fazem milagres junto do Secretariado.
Não restarão quaisquer dúvidas que, chegando ao local de trabalho, não se deparará com uma vaca caída, mas é frequente avistarem-se cabras sentadas.
A vaca na exploração, se assim o entender, alimentar-se-á de erva verde e viçosa. Na função pública, o único verde que se vislumbra é o pano-de-fundo do Solitário (por vezes, o Solitário Spider).
Chega a hora do almoço. O veterinário de campo, na sua atarefada vida diária, comerá quando tiver disponibilidade, talvez acompanhado do pessoal da exploração, saciando-se com pão caseiro, queijos tradicionais e fumados de alta qualidade, tudo acompanhado de um bom tinto para escorregar melhor.
O veterinário da função pública almoça ao 12:30. Nunca depois das 13. O subsídio de almoço é limitado, por isso na maioria das vezes, traz-se o farnel de casa, que é para sobrarem uns cobres ao fim do mês. Anuncia-se então bem alto que se está a almoçar no local de trabalho, para não haver contestação aquando da sua saída, hora e meia antes das 17h (para todos os que sofrem do "síndroma António Guterres", às 15:30). Apesar da hora e meia permitida para o almoço, quando esta estirpe de veterinário se desloca a um qualquer estabelecimento para desfrutar a sua refeição, retorna ao trabalho apenas, e apenas só depois de tomado o café (e eventualmente, o cigarro), o que pode facilmente ocorrer por volta das 16:30. Meia hora depois, pica-se o ponto.
O veterinário de campo chega a casa com o sentimento de função cumprida. Deixa o telemóvel ligado, em caso de emergências.
O veterinário-das-9-às-5 chega a casa sempre estafado. Não tem tempo para fazer o jantar, nem tão pouco preparar o dia de amanhã. Olha atenciosamente para o calendário, fazendo contas à vida (Quantos anos me faltam para a reforma? Quando é que posso meter férias? Amanhã não vou trabalhar!).
Onde anda a Histopatologia quando precisamos dela?
6 Comments:
Bravo, Carlitos!
Bela prosa, cheia de ironia "queiroziana". Mas tão novo e já tão desiludido pela vida!
Quanto à pulhice humana, não bastam os lamentos...há que lutar. Parece-me que estes escritos no vosso Blog são um bom começo. Parabens.
o veterinario da função publica tambem gosta de fazer as pausas para o cafe?
parabens!! acho q tens muito jeito.
Genial.
Teria alguns acrescentos a dar à definicäo de funcionário público, mas vertente dinamarquesa:
- o almoco, às 11 e meia, dura meia hora, nem mais nem menos minuto.
- horário de saída: entre as 3 e meia e as 4. Qualquer hora a mais será compensada (com folgas, claro), em dia à escolha do funcionário.
Beijos, saudades de todos
3 urras para o FP portugues!!!!1
Tambem sei o que é trabalhar num organismo do Estado, e só te digo isto é que não evolui portugal!
lol! Fantástico miudo! Essa descrição infelizmente é mto fiel à realidade! Para quando um cafezito? Acrescento que eu, veterinária de clinica ando a trabalhar das 8h30 da manhã até às 21h30m. Parecido, não? E quase n tenho tempo para almoçar! Ah pois é... Nem mais nem menos!
O vosso caro colega ontem estava às 8h10 no escritório e às 23h chegou a casa. Vida de veterinário de campo...
Enviar um comentário
<< Home